02 outubro 2009

RIO DE JANEIRO (2016)









COPENHAGUE - Uma vitória incontestável, com mais de dois terços dois votos sobre a rival Madri, garantiu ao Rio de Janeiro nesta sexta-feira o direito de realizar os primeiros Jogos Olímpicos da história da América do Sul, uma conquista atribuída à experiência das duas derrotas anteriores e à liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Num dia em que a presença do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, era vista como um ponto de desequilíbrio a favor de Chicago, a campanha brasileira roubou os holofotes a partir de sua apresentação final aos eleitores do Comitê Olímpico Internacional (COI), ao mostrar as belezas da cidade como um cenário à espera de Jogos marcados pelo sentimento.
A coroação aconteceu quando a breve passagem de Obama por Copenhague já tinha chegado ao fim, depois de apenas três horas. Lula, envolvido a fundo na campanha Rio-2016 desde seu início, chorou muito ao comemorar o triunfo, considerado por ele como um dos dias mais importantes de sua vida.
"Já passei por tanta coisa na vida que pensava que não tinha mais motivo para me emocionar, e de repente eu era o mais emocionado e o mais chorão de todos", disse o presidente, na entrevista coletiva reservada à cidade vencedora, após ter desabado em lágrimas diante das câmeras.
O "fator Lula", que foi ameaçado quando Obama confirmou esta semana que participaria da votação do COI, fez diferença desde a chegada do presidente à capital dinamarquesa, na quarta-feira, quando ele saiu do avião diretamente para um jantar com membros do COI para pedir votos.
O presidente encerrou sua campanha de quase dois anos nesta sexta pedindo aos eleitores que dessem ao Brasil uma única chance de mostrar sua capacidade. Pela proposta brasileira, o governo federal vai arcar com boa parte dos quase 30 bilhões de reais do orçamento previsto para os Jogos no Rio.
"O discurso do presidente Lula deu certeza a todos dentro da sala que o Brasil tinha condições de realizar os Jogos Olímpicos", disse a jornalistas o presidente da Fifa, Joseph Blatter. "Me tocou fortemente", acrescentou o suíço, que disse não ver problemas para a realização da Copa do Mundo no Brasil apenas dois anos antes dos Jogos.
Em Copacabana, cerca de 100 mil pessoas se reuniram na praia para festejar a vitória, enquanto os membros da campanha da cidade partiram para uma festa ao som de samba no hotel transformado em quartel-geral da candidatura em Copenhague.

APRENDIZADO

O Rio chegou à vitória em sua estreia numa eleição olímpica, após duas candidaturas, para 2004 e 2012, que não passaram da primeira fase.
Após a inesperada eliminação de Chicago logo na primeira rodada - a única em que o Rio ficou atrás de Madri - a cidade brasileira esteve muito perto de conquistar a maioria necessária já na votação seguinte, quando recebeu 46 votos, ante 29 de Madri e 20 de Tóquio, que foi eliminada.
A disputa direta contra a capital espanhola, com quem o Rio tinha um acordo de apoio mútuo em caso de eliminação, foi decidida com margem folgada, 66 a 32.
"Disse ao presidente Jacques Rogge (do COI) há quatro anos que nós não estávamos prontos, mas que aprenderíamos e estaríamos de volta. Mudamos o projeto dos Jogos Pan-Americano de 2007 para vencer hoje", afirmou o presidente da candidatura brasileira, Carlos Arthurz Nuzman, acrescentando que o Rio fez um Pan maior que o necessário para mostrar condições de realizar uma Olimpíada.
Mas, apesar de o Pan ter dado à cidade uma base de arenas esportivas e a experiência de realizar um evento multiesportivo, ainda há muito a ser feito.
A candidatura tem um projeto com gasto total previsto de mais de 28 bilhões de reais, dos quais quase 25 bilhões provenientes dos cofres públicos, para tratar questões como a infraestrutura de transporte, a despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas da cidade, e o crescimento da oferta de acomodação - tema citado como preocupação pelos membros do

COI.

As autoridades da candidatura alegam que boa parte das obras está prevista para ser executada independentemente da realização dos Jogos, no entanto, somente 29 por cento das instalações esportivas exigidas estão totalmente prontas para a Olimpíada.
"Vamos ter que dormir menos horas, penar mais e trabalhar mais. Agora a palavra de ordem é trabalho, trabalho, trabalho, para a gente fazer melhor que em qualquer momento da história do Brasil", disse Lula, que ouviu dos integrantes da candidatura a promessa de que o trabalho começará imediatamente.

LOBBY VITORIOSO

A vitória da cidade também foi marcada por um lobby eficiente iniciado logo após a visita de inspeção do COI, em maio, que resultou na primeira avaliação positiva da cidade.
Além do próprio Lula, que encontrou chefes de Estado, concedeu entrevistas e fez apelos públicos pelo Rio-2016 durante seu crescente papel na política interna, autoridades da cidade e "embaixadores olímpicos", entre eles Pelé, passaram os últimos meses dando a volta ao mundo para convencer eleitores e outras personalidades do esporte.
"Estou fora de casa há quatro meses", disse Nuzman. "Nenhum de nós teve um dia de férias depois dos Jogos Pan-Americanos."
Numa frase, Pelé resumiu seu próprio papel em ajudar a cidade: "Deus só me coloca em equipe vencedora."